18 January 2007

Neurónios

É comum dizer-se que com o andar do tempo, as pessoas vão mudando a sua forma de ver as coisas. Que quando se é novo todos somos de esquerda, e que à medida que vamos crescendo, vamo-nos aos poucos, juntando a direita - vejam o caso do Durão Barroso. A juventude é a fase tipica do idealismo lírico onde normalmente a esquerda vai buscar as suas ideias. Com a idade, vamos ficando pragmáticos, realistas, e como tal acabamos como conservadores de direita. Eu sinto que estou a fazer o caminho inverso. Um pouco como o Diogo Freitas do Amaral, o politico que até hoje mais admirei, que soube ser de direita, num momento em que era dificil escolher esse lado, e com os tempos, abriu o pisca e foi calmamente encostando à esquerda, até estacionar num governo PS.
Também sempre tive como certo, que as grandes ideias e conceitos, era o que realmente mais importava. Definindo os grandes príncipios e objectivos, a sua aplicação prática , em todos os pequenos casos particulares, era simples. Eram meros pormenores. Por isso, na faculdade, sempre adorei as cadeiras macroeconomicas e achava enfadonhas as de microeconomia.
O tempo tem-me vindo a ensinar que não é bem assim. Esses chamado pormenores, se mal resolvidos, tornam-se em enormes pormaiores e podem deitar por terra, um objectivo global dos mais acertados.
Isto tudo a propósito do pobre senhor que morreu, no alentejo profundo, por demorar 7 horas a ser transportado até um hospital em lisboa. O objectivo global deste governo, acertado, de tentar racionalizar o sistema de saúde, fechando unidades que não se justificam abertas em virtude do número reduzido de populações que servem, sofre uma machadada que uma pouco eficaz oposição nunca lhe tinha conseguido dar.
O principio era correcto. A ideia era boa. Mas tinhamos que assegurar que aqueles, que ficavam longe desses centros de tratamento, conseguiam a eles ter acesso, de forma rápida e em tempo útil, como sempre o sr. correia de campos garantiu. Bastou este episodio, este pormenor no alentejo, para retirar qualquer credibilidade ao que este sr. nos possa, daqui para a frente dizer! Para piorar, em vez de tentar fazer deste caso, um exemplo do que não se deve fazer e tirar dele as conclusões rigorosas que merece, para evitar erros iguais no futuro, esse sr. decidiu não fazer nenhum inquérito, por achar que tudo funcionou na perfeição. Por achar que correu tudo bem, numa situação em que um ferido, que precisava de tratamento neurológico, tivesse demorado 7 horas até chegar ao sitio onde o podia ter.
Parece impossivel alguem defender isto. Mas a resposta esta na própria ideia. Só alguem sem nenhuns neurónios é capaz de ter uma afirmação dessas. Se o sr. correia de campos não tem, um único neurónio na cabeça e consegue estar vivo, faz todo o sentido que ache supérfulo perder tempo e usar meios para tratar os neurónios deste senhor, que como se viu, tanta falta lhe fizeram!

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