04 June 2008

Ar Fresco

Estes últimos anos, desde que Cavaco deixou o leme, que o nosso país tem vivido com políticos sem capacidade, sem chama, sem liderança, sem carisma e sem ideias. Não são capazes de ter uma ideia para o pais e de fazer o país acreditar nela e lutar por ela. As poucas ideias que tiveram estão completamente desactualizadas e tiveram efeitos nulos.
Pior que isso só o facto de olharmos a volta e não vermos ninguém que tenha essa aura e ideias frescas que nos possam trilhar um novo caminho.
Hoje li finalmente um pensamento com cabeça tronco e membros para o país. Não passa de um texto mas vale muito se for passado a prática. Eis o que me pareceu mais importante:
"Este é talvez o primeiro sintoma de uma estratégia de crescimento errada, que não pode senão dar resultados medíocres, por mais que o governo se esforce por prometer grandes progressos. O acesso a financiamento abundante e barato, que se tornou possível com a moeda única, levou o país a perder a noção da escassez de capital. Todo o investimento passou a ser considerado positivo e útil. Qualquer projecto, por mais megalómano e improdutivo, é bem acolhido, simplesmente porque pode ser financiado....
È evidente que os portugueses gostam de assistir aos jogos de futebol em bonitos e modernos estádios, se sentem bem em auto-estradas espectaculares com pouco tráfego e, um dia, adorarão viajar em comboios ultra-rápidos e desfrutar de aeroportos super modernos e gigantescos. Mas nenhum deste investimento - apesar da sua dimensão contribui um milímetro para o aumento da produtividade ou a eficiência das empresas portuguesas. São antes obras de luxo, compreensíveis em países muito ricos, mas com altíssimo custo de oportunidade, porque o que fica a faltar é o investimento realmente produtivo....
A perda de competitividade alemã tem muitos paralelos , com o que se tem passado em Portugal. Para rapidamente tentar trazer a Alemanha do Leste para o nível de bem estar do resto do país, o governo lançou-se num programa gigantesco de investimento em infra-estruturas, que permitisse em pouco tempo recuperar o atraso causado por muitas décadas de regime comunista. Muito desse investimento não era imediatamente produtivo e, em consequência, ao aumento de despesa não correspondeu um real aumento da capacidade de produção. O excesso de despesa levou a uma forte apreciação real da moeda alemã. A perda de competitividade de largos segmentos da industria alemã foi o preço pago pelo excesso de investimento em infra-estruturas na antiga Alemã Democrática.....
O exemplo que mais interessa a Portugal é evidentemente o da Irlanda. A Irlanda, que ainda há cerca de duas décadas era dos países mais pobres da Europa, está hoje muita acima da média europeia, graças a uma politica que, pode dizer-se, é o oposto da praticada por Portugal. Sem esbanjar um tostão em infra-estruturas desnecessárias e luxuosas, a Irlanda atribui uma prioridade total a competitividade, ajudando o sector exportador a obter ganhos de eficiência e a criar valor a um ritmo sustentado. È interessante notar que, em consequência, foi possível naquele pequeno país manter uma notável subida de salários reais e, portanto, distribuir a riqueza criada de uma forma mais justa e equilibrada. Por outras palavras, a competitividade não tem de se obter necessariamente`a custa de salários baixos. Pelo contrário, os salários baixos e a redistribuição adversa do rendimento são a consequência natural da falta de competitividade de um pais. Como o caso da Irlanda mostra, a competitividade pode e deve conquistar-se com aumentos substanciais de produtividade em valor, o que implica uma permanente subida de qualidade - tecnologia, eficiência e inovação -no sector transácionável. Para além da Irlanda - e ainda que de forma menos espectacular - é este o modelo dominante no Norte da Europa, em particular nos países escandinavos.....
Acima de tudo, o próprio conceito de inovação tecnológica é incompatível com o modelo dirigista e centralizador que o governo protagoniza. A obsessiva fixação da política económica nos grandes projectos - os PIN aos quais são dados todos os privilégios e aos quais se permite que funcionem acima das regras que pesam sobre todos os outros - não pode ser simbolicamente mais oposta a um modelo de inovação tecnológica. Isto porque , como todas as experiências bem sucedidas mostram, a inovação é um processo muito descentralizado, que acontece fruto de muitas iniciativas que não se pode nem se deve controlar e que são lançadas por empreendedores desconhecidos que, quando bem sucedidos, se revelam verdadeiramente revolucionários...
O governo propõe que se gastem biliões como se fossem milhares ou centenas. Ora o país não tem esses biliões - não somos ricos nem poupamos o suficiente. O que mais me choca é que ninguém se dê ao trabalho de estudar, tranquilamente, quantos projectos inovadores seria possível financiar, se todo este capital fosse orientado doutra maneira; Quantos empreendedores, com a ambição de realizar algo diferente de demonstrar aquilo de que são realmente capazes, não responderiam ao desafio, se esse financiamento existisse; quantos postos de trabalho produtivos e sustentáveis não poderíamos criar, se estas verbas todas fossem canalizadas para bom investimento....
António Borges in Exame de Junho 2008"
Isto só prova que o modelo dos últimos anos está esgotado, temos de mudar de paradigma, fazer coisas diferentes para tentar um resultado diferente. Era importante que estas ideias entrassem na cabeça dos portugueses para se exigir essa alteração.
Será que no meio das musicas do Roberto Leal e do Tony Carreira alguém vai conseguir ouvir isto. Esperemos que sim, que oiçam, porque o Sócrates esse já vimos que não quer ouvir. Não exista outra solução se não ter alguém que queira mudar.

Medo

"Portugal pode vencer internacionalmente?
Pode, mas primeiro tem de melhorar uma quantidade de preconceitos. Tem de melhorar a auto-estima e tomar menos comprimidos para a depressão. As pessoas andam tristes porquê? Porque têm medo de não ter dinheiro para pagar as contas, de perder o emprego. E começa a ser uma bola de neve. Conseguir passar essa mensagem não é fácil. Mais do que mil palavras, mais do que mil anúncios são os exemplos à nossa volta. Nunca o ser humano teve e produziu tanto conhecimento como no último século. Mas nunca esteve tão próximo de se auto destruir como agora e nunca foi tão triste. Já se vê um movimento que diz que não é ter que traz a felicidade. É ser.
Entrevista a Filipe Vila Nova in Exame Junho de 2008"
Filipe Vila Nova detém 85% da Salsa e tem a "ousadia" de afirmar que tem o objectivo de tornar a Salsa a mais importante marca de jeans do mundo