29 December 2006

Tempo

No meio de todo o ruido e correria associada a esta época do ano, dificilmente arranjamos tempo e espaço para parar. Parar para pensar e reflectir em mais um ano que terminou. O tempo não para! Não se sabe onde começa nem se consegue vislumbrar onde vai acabar. É um daqueles enormes novelos de lã, que nunca sabemos onde estão as pontas, mas que continuamos sempre a enrolar, até encontrar uma das ditas. Normalmente, ela acaba por aparecer quando menos esperamos. Estamos nós a enrolar normalmente o nosso novelo do tempo, quando, de repente, percebemos que a linha acabou. Nesse momento já não respiramos e quando colocamos a mão na cara, esta está fria e morta. O nosso tempo acabou. Se outro tempo começa, se nos dão mais algum novelo para voltar a enrolar, é assunto com o qual não quero agora perder tempo. Estou mais preocupado em pensar no novelo que tenho agora. De tudo o que enrolei durante o ano que agora vai terminar.
Não sei se todos os anos enrolo a mesma quantidade de lã. Nunca tinha parado para pensar nisso. Também é dificil de saber. Teria de desenrolar todo o ano anterior, medir os metros e depois comparar com os do próximo ano. Além de ser um processo muito demorado, parece ser muito perigoso - não sei como reagiria o tempo a ser desenrolado. Parece-me demasiado arriscado, voltar a expor à luz do presente, coisas há muito passadas. Poderiamos alterar o nosso passado. É realmente demasiado arriscado, só para tirar uma dúvida tão pouco interessante.
Voltando ao que me trouxe aqui. Este foi para mim um ano em tudo perdido. Andei 365 dias a enrolar tempo sem qualquer fim definido. Sem olhar para a lã que o compunha, para o volume que se criava. Simplesmente segui o movimento inato de enrolar, como faço com o respirar, com o falar, com o comer. Não agi por acção mas por reacção. Reacção aos estímulos externos que me foram chegando, sem qualquer tipo de ordem ou fim. O resultado, só poderia ser o esperado. Ao fim de tanto enrolar sinto que o volume é o mesmo. Que nada de novo acrescentei ao meu novelo, a não ser peso morto que terei de carregar.
Como não devemos viver do passado, mas aprender com o passado, vou publicar neste meu sítio público de desabafos, as minhas resoluções para o novo ano. Desta forma delas me não vou esquecer, e com elas todos, e eu próprio, me podem confrontar. E o meu desejo de novo ano é que ao meu novelo não acrescente mais peso morto, que muito me vai custar a carregar pela vida e a ela pouco acrescenta. Prefiro deixar de enrolar, que enrolar por enrolar. Bom 2007 para todos, os que de forma mais ou menos importante, fazem parte do meu novelo.