23 March 2008

Expectativas

Há alguns anos atrás a Economia viveu uma das suas muitas evoluções, à qual eu acrescento um r ,para dizer que nela provocou uma revolução. De forma simplista podemos dizer que até esse momento os modelos económicos só tinham uma dimensão matemática e racional. Se essa perspectiva é fundamental à economia, isso provocava um contínuo desencontro na sua aplicação à prática, na medida em que os agentes económicos - todos nós - não seguem comportamentos determinados por leis matemáticas rigorosas.
Na física, podemos repetir em laboratório uma determinada situação, que se as condições forem sempre as mesmas, o resultado será ele próprio constante. Na vida real não é assim. Se nos colocarem perante uma mesma situação, mas em momentos diferentes, a nossa reacção pode ser completamente dispare. Depende da conjuntura a nossa volta.
Esse elemento que confere cor e volume à teria económica foi conseguido com a introdução das expectivas. Os modelos passavam a incluir - além das variáveis racionais quantificáveis, uma que reflectia essa aleatoriedade- as expectativas criadas pelos agentes económicos.
A determinado momento achou-se que as expectativas eram extremamente importantes. Um governo que quisesse controlar a inflação e ser restritivo, mais que medidas concretas, deveria indicar um ministro das finanças que pelo seu discurso e opiniões passadas, incutisse essa mensagem imediata na opinião publica. Independentemente do que viesse ou não a ser feito, na mente das pessoas a mensagem seria imediatamente entendida, mesmo que na prática as acções seguintes não fossem nesse sentido. Deve ter sido por isso que o Durão Barroso foi buscar a Manuela Ferreira Leite para ministra quando chegou ao governo.
É incrível como tudo isto me veio a cabeça a propósito de pensar em expectativas. Lidamos com esse fenómeno todos os dias. Criamos expectativas nos outros e criamos expectativas sobre nós próprios e os outros. Quando a discrepância entre as expectativas e a realidade é grande, os resultados em nós e nos outros, podem ser demolidores. Acho que o termo demolidores é claramente exagerado, mas na escrita se não houver a utilização destas palavras de poder elevado mas alcance duvidoso, não se consegue conferir outra dimensão a temas completamente rasteiros.
A gestão das expectativas torna-se assim numa das mais importantes chaves para o nosso sucesso. Temos que ter controlo total sobre as expectativas que criamos nos outros e nas que desenvolvemos em nós mesmos, por forma a que nunca se afastem muito da realidade que virá.
A economia sempre me ensinou que tudo tem um peso relativo. O preço de algo, o tempo dispendido, nunca é muito ou pouco em termos absolutos, temos sempre que o relacionar com os resultados obtidos. As expectativas encarnam na perfeição o carácter relativo das coisas. Uma derrota perante expectativas baixas pode parecer uma vitória. Uma vitória perante expectativas altas pode parecer uma derrota.
O mundo não é preto e branco. As imagens nunca são planas como nas fotos. A realidade é colorida e volumétrica. Temos que saber controlar bem as escalas e selecções de cor para que a nossa realidade seja perfeita. À nossa medida!