18 December 2007

Maiorias


Nem de propósito! Ontem escrevia sobre o normal não ser mais que um comportamento maioritário e da importância que o respeito pelas minorias devia ter, aparece-me logo uma notícia que encaixa aqui que nem uma luva. O tribunal constitucional começou a notificar os partidos para apresentarem comprovativos de existência de 5000 militantes, caso contrário podem ser encerrados.
Dois comentários me vieram imediatamente a cabeça.
O primeiro é que a politica deveria ter como principal função o debate de ideias por forma a atingir as melhores soluções para a comunidade, devendo, por isso, ser representativa das correntes de opinião dessa mesma comunidade. Assim sendo, nada de mais errado poderia ter sido feito. Isto é somente o reflexo do medo que a classe medíocre de políticos de carreira - de que Sócrates será o melhor mas não único exemplo - têm de que outros brilhem e ponham a nú as suas incapacidades roubando-lhe o ganha pão. Não deve faltar muito para surgir uma ordem dos políticos para criar entraves à entrada na carreira e de e um sindicato para lutar pelos seus direitos adquiridos.
O segundo é que a politica de hoje é medíocre como resultado da pouca valorização que se faz dos politicos e consequentemente do pouco que se lhes paga. Desenvolve-se neste momento a este nível um processo em tudo idêntico ao que aconteceu com os professores. Os ordenados são baixos e como tal não há hoje um único jovem em início de carreira - dos que seja capaz - a querer entrar na política, porque terá decerto milhares de oportunidades bem mais interessantes de desenvolver a mesma. Desta forma a política, se continuar assim, deixará de ter qualquer interesse e as funções nela contidas vão acabar por recair sobre a sociedade civil e nos seus movimentos - esses sim compostos por pessoas capazes e de mérito reconhecido. Aí, já não funcionará a regra da maioria, mas a da capacidade de acesso à informação e aos meios. Veja-se o que se tem passado a propósito da escolha da localização do novo aeroporto.
Será decerto um novo desafio, bem mais perigoso que o da democracia, no sentido em que será mais difícil de controlar que este e de resultados bem mais imprevisíveis. No entanto será decerto muito mais estimulante.
Entretanto os políticos, de tão entretidos que andam com as couves do seu quintal, nem se aperceberam ainda dessa realidade. Vai chegar um dia de manhã em que quando acordarem vão perceber que já não têm horta!