28 May 2008

Um outro ângulo

"..........Escravidão
Hoje, nos países do Norte, as crianças trabalham duramente na escola para obterem um bom emprego. Em adultos, irão trabalhar por conta de alguém. Ora, o ser humano não nasceu para servir outro ser humano. Um trabalhador independente, que tem uma banca, por exemplo, trabalha quando tem necessidade. Se há dias em que não quer trabalhar, pode fazê-lo. Acaba o seu dia de trabalho e aproveita um pouco da vida. Não tem ninguem a avisar se se atrasar uma hora. Não fica aflito por ir perder parte do salário. Quando eramos caçadores-recoletores, não eramos escravos, controlávamos as nossas existências. Há milhões de anos, perdemos esta liberdade. Levamos vidas rígidas, repetindo diariamente os mesmos ritmos de trabalho. Corremos para o trabalho, corremos de volta para casa. Esta vida robótica não parece um progresso.
Com o regime assalariado, passámos da liberdade de empreender e de uma certa flexibilidade de vida para maior rigidez. Tenho um salário, um patrão, tenho de fazer o meu trabalho quer me agrade quer não, porque sou uma máquina de fazer dinheiro. É esse o perigo global das estruturas económicas actuais, da teoria dominante. O homem é considerado apenas como um agente económico, um empregado, um assalariado, uma máquina. É uma visão unidimensional do humano. Ser assalariado deveria ser uma opção entre várias. ....."

Entrevista a Muhammad Yunus in Courrier Internacional de Junho de 2008.
Yunus foi o vencedor do Prémio da Paz em 2006 com o reconhecimento pela criação do Microcrédito.