19 April 2008

A Censura Invisível

Durante o período da ditadura um lápis azul riscava tudo o que não se podia dizer. O pensamento livre não era permitido e só as opiniões coincidentes e concordantes com os princípios e ideias dessa ditadura política podiam ser expressas.
Hoje olho para o Cavaco Silva na Madeira e penso que a censura de hoje é bem mais grave que a de ontem. A censura política deixava as suas marcas. Podemos hoje ler o que se queria escrever mas não foi publicado, ouvir o que não foi posto no ar, ver a cena que foi cortada. Matava-se a mensagem mas não se matava o mensageiro. E mesmo a mensagem, em muitos casos, resistiu e o tempo veio a revelá-la.
Hoje um pouco à imagem da mão invisível de Adam Smith, existe uma censura invisível que impede as pessoas de falarem e de se expressarem. Temos a boca amordaçada por regras de comunicação e as mãos atadas pelos princípios do social, politica e moralmente correcto.
Assim nada do que se pensa acaba por sair para fora. Este principio refinado pretende controlar o mensageiro, que deixa assim de ter a liberdade de enviar mensagens. As que emite não são as correctas mas as permitidas, sem que nelas consigamos ver onde está o risco vermelho ou onde foi feito o corte. Se tudo for feito na perfeição estas vão parecer absolutamente originais e verdadeiras.
Na sociologia fala-se da necessidade de se conseguir ver para além das fachadas. Nos dias de hoje, ao investir-se tudo na criação e ornamentação de fachadas, será que vão restar alguns recursos para rechear o seu interior?